Situações extremas, como as inundações do Rio Grande do Sul, impactam profundamente a vida de crianças e adolescentes, deixando-os expostos a medos e traumas.
Por isso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef, preparou orientações para apoiar mães, pais e cuidadores nesse processo de acolhimento e cuidado com meninas e meninos afetados pelas chuvas.
Sobre este assunto, o programa Sintonia com o Sul entrevistou a Oficial de Desenvolvimento Infantil do UNICEF no Brasil, Maíra Souza. Veja alguns trechos da entrevista.
Ediléia Martins: Como está sendo para as crianças e adolescentes que estão lá no Rio Grande do Sul nesse momento?
Maíra Souza: A gente já tem uma série de evidências que mostram que situações extremas, como guerras, violências extremas ou desastres climáticos, como é o caso do Rio Grande do Sul, podem ser promotoras daquilo que a gente chama de estresse tóxico. É aquele estado de estresse permanente, de tensão prolongada, que quando a criança não tem o apoio do seu adulto de referência, ou dos serviços que possam ser protetores, isso é extremamente prejudicial para o desenvolvimento infantil. Então, o Unicef vem chamando atenção sobre a importância da gente tomar algumas medidas para tentar mitigar de alguma forma esses impactos e cuidar realmente das crianças que são as mais afetadas pelas emergências.
Ediléia Martins: O que seria esse estresse tóxico?
Maíra Souza: O estresse, na verdade, é um sentimento positivo para criança. Só que existem vários graus. Tem um estresse positivo, que é aquela sensação de ansiedade do primeiro dia de aula, ou aquele medinho antes da vacina. Enfim, que provoca o aumento dos batimentos cardíacos e pode ser saudável, porque serve de estímulo, para a criança aprender a lidar com frustrações, com ansiedade, com outros desafios. Tem o estresse tolerável, que é aquele quando nosso sistema de alerta se intensifica um pouco mais, a gente fica com a com a respiração mais ofegante, lida mais com a tristeza, né? São casos de luto, por exemplo, um machucado mais grave, mas que quando a criança tem ali um adulto que amorteça esse baque, ela consegue lidar melhor com essa adversidade. E tem o chamado estresse tóxico, que é o nocivo. É quando a criança vivencia uma situação de estresse intensos e, combinado com outros fatores de risco, como é o caso de situações de desastres naturais, ela não consegue responder, né? Então o sistema nervoso fica ativado por mais tempo, o cérebro fica em alerta, o corpo fica tenso, tem muita adrenalina, cortisol, que são aqueles hormônios de estresse. E isso pode ser prejudicial para aprendizagem da criança, para o comportamento, saúde mental e também tem impactos a longo prazo. Por isso que é importante que os pais tenham atenção, para essa criança e façam com que ela se sinta acolhida, ouvida, estimulada, para mitigar esses impactos do trauma.
Ouça a entrevista na íntegra no player acima.
Fonte: Fonte: Agência Brasil